por Douglas Magno
É impossível voltar a Bento Rodrigues, um ano após o maior desastre ambiental do país, e não lembrar de todas as histórias e pessoas que conheci durante esse período.
Como o Ricardo, que me acolheu em sua casa no dia da tragédia, ou a Dona Lia, que com os olhos cheios de água, me contou que a lama havia levado o retrato que ela tinha dos pais na parede de casa, ainda sem entender ao certo o que tinha acontecido.
Maria, Elisa, Antônio, Sandra, Corjesus... Gente simples, que viram suas histórias soterradas pela lama. Lama que ainda escorre por Fundão, esconde o que um dia foi o Bento, o "Nosso Bento", como era carinhosamente chamado o distrito onde agora exitem apenas ruínas e marcas do tsunami de lama que levou sonhos, histórias e vidas.
O agricultor não produz mais. O alface, a couve, o limão, que antes eram colhidos no quintal, agora vem do supermercado em Mariana. O portão de casa abre e fecha por controle remoto, a cerca deu lugar ao muro alto e o quintal repleto de árvores e espaço se resume a, no máximo, uma varanda de piso.
O ar puro, hoje é poeira. O silencio, antes quebrado pelo canto dos pássaros ou pelas risadas durante um bate papo no Bar da Sandra, se esconde por trás de máquinas da Samarco, que trabalham a todo vapor na construção do Dique S4. Segundo a empresa, essa obra é para conter o rejeito que ainda está entre Fundão e Bento. Obra muito contestada por moradores, ainda mais por alagar boa parte do que sobrou do distrito, incluindo um muro histórico, construído em pedra por escravos.
Nenhuma multa paga, nenhum responsável preso. A Samarco faz muito pouco ou quase nada, e o que faz, não é mais que obrigação.
A única certeza é que nunca iremos esquecer.